quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Dono da História

Legal esse seu filme...

O CHEIRO DO RALO
(BRA, 2007)
Dir.: Heitor Dhalia
Com Selton Mello, Paula Braun, Silvia Lourenço, Fabiana Guglielmetti, 
1h42 min - Comédia


Dizer que Selton Mello é um ator acima do nível entre os brasileiros, ou que o cinema nacional está melhorando cada vez mais em termos de qualidade já é lugar-comum. Acrescento a esta lista que o Brasil está produzindo bons roteiros originais. Sim. Defendo isso. É claro que sempre há os pontos fora da curva, com piadas repetidas e que já viraram gags das conversas informais dos bebedouros pelo Brasil afora. Então, para começar de vez o texto, digo que "O Cheiro do Ralo" é um ponto fora da curva. Mas do lado de cima da curva. 

Lourenço é um cara sem o menor escrúpulo, que um belo dia se apaixona por uma bunda. Até aqui, o mais incrédulo dos espectadores, acredita que estamos falando de uma pornochanchada ou de um filme com piadas grosseiras. Mas Lourenço não tem o menor escrúpulo, porque ele não se importa com a sociedade que o cerca. E como trabalha com a compra de objetos usados, ele permite se aproveitar do sofrimento dos outros para sua própria diversão. Mas seu pequeno mundo irá entrar em colapso pelo cheiro insuportável que sai do seu ralo.

"Tá vendo esse olho aqui?"

Selton Mello vai além da interpretação. Seu Lourenço consegue gerar compaixão e repúdio simultaneos. A história, simples, com uma produção simples e um baixíssimo orçamento, conta com atores apaixonados em uma idéia e dedicados em cada frame do filme. O diretor Heitor Dhalia, nos oferece um profundo mergulho nas picuinhas e conflitos mesquinhos da vida do protagonista.  Com pouco tempo de filme, conseguimos entender a dinâmica e o modo de pensar e agir do protagonista. E o maior mérito do filme é não se levar a sério. "O Cheiro do Ralo" é um ponto fora da curva. Deve ser incluído na indiscutível melhoria de qualidade do cinema nacional. Pode não ser o melhor. Mas é surpreendente. É original. Divertido, ousado e genial. E filmes nacionais com essas características, hoje, contamos nos dedos.

Nota 9,5

Trailer:

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Pelas linhas tortas

Elenco inspirado. Roteiro afiado.

BEIJOS E TIROS
(Kiss Kiss, Bang Bang; EUA, 2008)
Dir.: Shane Black
Com Robert Downey Jr., Val Kilmer, Michelle Mognahan, Corbin Bensen
1h42 min - Comédia


Robert Downey Jr. está numa maré de sorte. Convenhamos. Protagonizou um dos maiores filmes de 2008, brilhou na comédia "Trovão Tropical" e voltou a ser cotado para o Oscar no inédito "The Soloist" com Jamie Foxx. E la no começo de 2005, quando resolveu abandonar o lado ruim da vida Hollywoodiana, fez um filme modesto e brilhante, contando com a parceiria com Val Kilmer (que também precisava de um sucesso) e a estreiante Michelle Monaghan (que viria a contracenar com Tom Cruise no ano seguinte com Missão Impossível 3 e de lá para o estrelato).
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Harry Lockhart (Downey Jr. em uma de suas mais engraçadas atuações), é um bandido pé-de-chinelo que depois de uma frustrada tentativa de assalto a uma loja de brinquedos, acaba entrando para um teste de atores. De lá, arruma um papel em um filme e terá como consultor técnico Gay Perry (Val Kilmer, hilário), um detetive homossexual que vive de resolver casos com celebridades. O caldo entorna quando Lockhart, azarado, se envolve em um crime de verdade no qual não estava envolvido.
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"Pô Robert... O negócio aqui é sério..."
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Esse é um daqueles títulos que você viu na prateleira, mas não achou que fosse render um bom programa. É. Um baita de um programa. Não apenas pela química entre os atores, ou pelo mergulho e dedicação que empregam em seus papéis. Shane Black (roteirista da série Máquina Mortífera) estréia na direção com um roteiro afiado, dinâmico e apesar de complexo, divertido. Não demora muito a se apegar ao carma do personagem principal e seu envolvimento com a mocinha do filme. Os estereótipos do cenário cinematgráfico americano são muito bem aproveitados. O programa pode ter ido para a prateleira dos fundos, mas com certeza ainda está lá. Esperando para surpreender mais um programa.
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Nota 9,0
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Trailer: Não Disponível

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mundo Real

O conceito básico de "polícia e ladrão" sobe um patamar.

FOGO CONTRA FOGO
(Heat; EUA, 1995)
Dir.: Michael Mann
Com Al Pacino, Robert DeNiro, Val Kilmer, Jon Voight
2h51 min - Ação

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Falamos de reinvenções. Mas não falamos do reinventado. Não que os filmes policiais precisassem de uma reinvenção, mas que "Fogo Contra Fogo" representa um marco do gênero, isso ninguém nega. A clássica luta do bem contra o mal. Nada de novo em termos conceituais. Mas nenhum filme que tenha Al Pacino com Robert de Niro deve ser rotulado de comum. Ainda mais quando estes dois astros estrelam uma produção com um roteiro impecável e uma direção excelente.
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Neil McCauley (Robert DeNiro) é um ladrão profissional, o melhor no que faz e vive pela regra de que não se apega a nada que não possa largar em 30 segundos. Extremamente cauteloso e metódico, organiza um roubo a um carro forte do qual sairia mais uma vez ileso se não fosse um de seus integrantes fazer besteira e assassinar os seguranças. Para investigar o caso, entra em cena o policial Vincent Hanna (Al Pacino). Assim como McCauley, é o melhor no que faz. Seu faro de investigador o torna um policial distinto que não medirá esforços para caçar o bandido, agora, à sua altura.
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"You talkin´ to me?"

"Fogo Contra Fogo" é um filme longo. Curto para quem assiste. Suas quase 3 horas de duração estão perfeitamente bem argumentadas, graças a uma história crível e realista. O diretor Michael Mann não se preocupa em duração quando mergulha paralelamente nos dois mundos em que estuda: O pessoal do bandido e do policial. Todos tem razões. Todos tem culpa. E o estudo é meticuloso. E a pressão (ou o "Heat" do título original) so aumenta à medida em que o cerco os bandidos vai fechando. O clímax no final da segunda hora é simplesmente o melhor tiroteio de toda a história do cinema. A qualidade assustadora do som apenas completa a experiência de grudar na cadeira até que a última bala seja disparada. Mas nada melhor neste filme do que a relação de admiração entre bandido e mocinho. O respeito mútuo. O respeito pelo outro profissional que apenas irá adicionar mais adrenalina ao contexto. Seja qual o lado que tomar nestes 171 minutos, a única certeza é de estarmos diante de um dos mais perfeitos filmes dos últimos anos.
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Nota 10,0
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Trailer (sem legendas):


P.S.: Andrey, obrigado pelo presente!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A sabedoria do avesso

Esqueça tudo isso e vá jogar boliche...

O GRANDE LEBOWSKI
(The Big Lebowski; EUA/ING, 1998)
Dir.: Joel Coen
Com Jeff Bridges, John Goodman, Steve Buscemi
1h57 min - Comédia
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Até outrora, falar dos irmãos Coen era basicamente lembrar dos ácidos momentos de Fargo. Haviam outros no caminho, como "Arizona Nunca Mais" ou "Barton Fink", mas Fargo, pelas indicações ao Oscar e as atuações inspiradíssimas em um bom filme pareciam falar mais alto. Desde este marcante filme de 1995 até o mais recente "Onde os Fracos Não Tem Vez", presenciamos pérolas como "E aí Irmão, Cadê Você?" e momentos irregulares como "O Amor Custa Caro". Mas a saga de Lebowski e seus inseparáveis companheiros Walter e Donny no clássico cult "O Grande Lebowski" certamente representa um ponto fora do comum para os dois diretores.
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Ponto incomum, porque como toda boa comédia, ela segue propositalmente fora dos padrões: Não se leva a sério em momento algum, não sente a necessidade de apelar para o pastelão e conta com atores comprometidos com a história. História que se passa no começo da década de 90, onde Jefferey Lebowski - ou o "Dude" como prefere ser chamado - é confundido com um milionário e tem sua casa, digamos, violada por dois bandidos. Injuriado com o prejuízo, o "Dude" vai até a casa do verdadeiro Jefferey Lebowski reaver o pagamento. Contar o que se sucede no filme, pode estragar surpresas e comprometer momentos cômicos. Só adianto que ele se envolve novamente com o milionário e se torna negociador do sequestro de Bunny, a esposa do Lebowski milionário.
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"Cala a boca Donny... Ele vai falar alguma coisa..."
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E a história de Lebowski costuma a dividir radicalmente opiniões: Quem gosta, clama ser um filme hilário e marcante. Em compensação, quem não compra a história costuma a tecer críticas ferozes. A verdade é que é um retrato de três amigos completamente diferentes que tem como unica ligação, o boliche. E é na pistas (e atrás delas) que eles podem refletir sobre seu cotidiano e se ajudarem a tomar o próximo passo. Mesmo com os momentos de completo non-sense, "O Grande Lebowski" consegue divertir e surpreender. Os diálogos (principalmente entre o Dude e Walter) são impagáveis e de fácil reprodução no cotidiano pelos fãs imponderáveis do filme. Mesmo com as "viagens" do personagem principal, que podem ser tidas um tanto quanto exageradas, os personagens do filme são extremamente bem-construídos e encontram fácil explicação para suas ações. Uma comédia afiada e complexa, que ganhou fãs por todo o planeta. Mas acima de tudo, um filme muito, muito divertido. A não ser que ameaçar Jesus Quintana (a hilaria ponta de John Turturro) seja muito para você.
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(Nota 9,5)
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Trailer:


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Com todo o respeito...

E agora, algo completamente diferente:
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A VIDA DE BRIAN
(Life of Brian; ING, 1979)
Dir.: Terry Jones
Com Graham Chapman, Terry Jones, Eric Idle, John Cleese, Michael Palin, Terry Gillian
1h34 min - Comédia
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Brincar com religião não é facil. Quando "Dogma" de Kevin Smith estreiou tentaram proibir o filme em varios países. "A Última Tentação de Cristo" também não teve tarefa fácil para ser exibido nos cinemas. Mas antes desses notáveis filmes, houve "A Vida de Brian". Escrito e dirigido por um dos geniais integrantes do grupo Monty Phyton, e que, na época de seu lançamento (1979) era vendido como um filme que "ofende dois terços da população mundial e incomodará o restante", foi banido em vários países (incluindo Irlanda, Noruega, Cingapura e ter sido reeditado para ser exibido na Finlândia). Mas como nada era obstáculo para a trupe inglesa, o filme foi lançado e uma legião de fãs (adeptos e não-adeptos do seriado Flying Circus) ainda prega ser uma das melhores comédias de todos os tempos.
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Para se ter uma ideia da gravidade da situação: Brian nasce em um estábulo vizinho ao de Jesus Cristo (tão perto que os Reis Magos entram no estábulo errado). E por toda a sua vida ele passará muito perto do Messias, ainda que nunca fazendo contato direto com Ele. Seja tentando ouvir ao sermão da Montanha, ou se envolvendo em conspirações contra os romanos, criando uma legião de seguidores e até correndo risco de ser crucificado.
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"Nós, os Lomanos impiedosos..."


Se brincar com a religião é algo perigoso, "A Vida de Brian" não apela. Faz sim, piadas fortes mas nunca visa ofender a tradições e culturas. É um belo exercício de comédia e da tentativa de fazer o espectador rir de valores que consideram como Dogmas, sempre utilizando a sua tradicional linha non-sense. Os integrantes estão empolgados e inspirados, fazendo um filme à altura de seu antecessor "Monty Phyton e o Cálice Sagrado". Como sempre, piadas sobre sexo, políticas e a inversão de tradições formam o alicerce do filme. E em caso de se sentir ofendido e/ou magoado, tenha calma, respire fundo e procure "sempre olhar para o lado bom da vida".
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Nota 10,0
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Cena do filme:

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pistas para o Passado

O que o diretor Christopher Nolan fazia antes de Batman Begins?
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AMNÉSIA
(Memento; EUA, 2000)
Dir.: Christopher Nolan
Com Guy Pierce, Carrie Anne Moss, John Pantoliano
1h 53 min - Suspense

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Na última semana, em conversa sobre cinema com alguns amigos, acabei descobrindo um fato curioso. Quase ninguem na roda havia assistido ao filme "Amnésia", de 2000. Nem quando apelei para o mais básico dos relatos sobre o filme - "É aquele filme que é contado de trás para a frente" - ouvi uma resposta que me animasse. E este post acaba por cair como uma luva em tempos de Cavaleiro das Trevas, já que o filme deste post foi o primeiro trabalho reconhecido do diretor da nova franquia de Batman no grande círculo cinematográfico.
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O filme começa com um crime. Mais precisamente um tiro na cabeça de um policial. Em paralelo, vemos Leonard (Guy Pierce) conversando pelo telefone em um quarto de hotel. Aos poucos, descobrimos que o personagem sofre de perda de memória recente desde um acidente que causou a morte de sua esposa. Ele passa a vida tirando fotos e tatuando as informações importantes em seu corpo para achar o assassino de sua amada, para não correr o risco de perder qualquer brecha que descobre em um curto intervalo de tempo. O problema é que no meio de seu limitado universo de pessoas, muitos podem ajudá-lo e outros podem tomar proveito da situação. E o mais agravante: Será que Leonard matou o cara certo?
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"Legal essa sua tatoo..."

Para as próximas rodinhas de conversa, diga que este é "aquele filme e que é contado de trás para a frente". Não só porque o diretor achou que seria uma forma inovadora de contar a história, mas porque o recurso é perfeito para colocar o espectador na pele do protagonista - Cada sequência do filme termina onde a sequência anterior começou. E como funciona! Se perder e se confundir (assim como o personagem), não só é fácil, como proposital. O diretor conduz seus espectadores ao aflitivo cotidiano e à interminável investigação de forma eficaz, o que gera uma simpatia quase que instantânea (isso ajuda muito no desfecho do filme) e a cada pista que ele encontra sugere uma nova reviravolta na conturbada história. Além das interpretações competentes (que inclui uma Carrie-Anne Moss recém saída da Trinity do primeiro Matrix), a história é impactante e surpreendente. Mas um filme para ser assistido com calma. Pode ser que você não entenda tudo logo de cara. Nada preocupante, qualquer coisa é só voltar e assistir tudo de novo.
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(Nota 10)
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Trailer: Não Disponível

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Fim da Sociedade

Grande Elenco. Grande História. Grande Direção. Grande Filme.
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FILHOS DA ESPERANÇA
(Children of Men; EUA, 2006)
Dir.:Alfonso Cuarón
Com Clive Owen, Julianne Moore, Chiwetel Ejiofor, Michael Caine
1h42 min - Drama
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É engraçado analisar algumas das diferentes versões de um futuro pessimista que o cinema já apresentou. Desde os filmes de ficção científica dos anos 60/70 (incluindo Planeta dos Macacos, Fuga do Século 23, O Dia em Que a Terra Parou...) os filmes que se passam há alguns anos na nossa frente costumam a mostrar um planeta descuidado, ou uma população enlouquecida. Geralmente rendem filmes na média das expectativas, porém, poucos deles se tornam memoráveis. É preciso um roteiro enxuto apoiado em uma causa nobre (geralmente ligado a algum tom político). Em 2006, quase nos acréscimos, um cineasta mexicano, uma história poderosa e alguns astros do primeiro escalão americano deram o exemplo de um bom filme futurista.
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E se daqui há 12 anos (2020, no filme), as mulheres do planeta não conseguissem mais engravidar? Como que a população aceitaria o fato de estarem enfrentando a extinção. A cidade é Londres. O último humano a nascer se torna uma celebridade e choca a população quando é assassinado. O governo local estabelece uma política contra imigrantes, devido ao grande número de nações menores que entraram em colapso e tiveram seus cidadãos se mudando para nações com melhor condições de vida. A população entra em choque e um forte sentimento nacionalista toma conta dos ingleses os dividindo entre pro e contra imigração. A capital inglesa sofre com atentados e muita violência. Mas eis que um grupo de pró-imigrantes, descobre que uma mulher está grávida. A líder Julian (Julianne Moore) aciona seu ex-marido Theo Faron (Clive Owen em uma de suas melhores performances), que não tem qualquer tipo de ligação com grupos extremistas, para que possa leva-la para fora da tumultuada cidade e para que assim, a criança possa crescer protegida.
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"Para de atirar, que o bebê tá dormindo..."

Um filme tenso até o último fio de cabelo, cortesia de uma direção perfeita e atuações brilhantes. A história coesa dá base para um dos filmes mais surpreendentes e chocantes dos últimos anos. O clima apocalíptico, os cenários destruídos e toda a direção de arte do filme auxiliam o espectador a mergulhar no pânico de seus personagens. O diretor Alfonso Cuarón (do filme "E sua mãe também") utiliza-se de uma câmera quase documental para aumentar a tensão e colocar o público junto ao grupo fugitivo. É impossível não prender a atenção e passar por aquele clima pessimista. Não buscamos respostas, apenas a salvação. Uma experiência muito forte (como há muito não víamos no cinema), não pela quantidade de violência (em doses consideráveis aqui), ou pelo grafismo que muitos filmes apelam. Forte no sentido psicológico de ver uma sociedade em colapso e demonstrada de forma visceral. Um verdadeiro soco no estômago. Mas a gratificante sensação de experienciar cinema puro.
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(Nota 9,5)
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Trailer:

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O amor que queima

O turbulento mundo de um dos maiores nomes da música, ganha uma merecida edição definitiva.
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JOHNNY & JUNE
(Walk the Line; EUA, 2007)
Dir.: James Mangold
Com Joaquim Phoenix, Reese Whitherspoon, Robert Patrick
2h16min (Original)/ 2h33min (Definitiva) - Drama
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Neste fim de semana, tive o prazer de encontrar a versão definitiva do filmaço de um dos nomes fortes da musica americana, Johnny Cash. Um dos filmes da excelente safra de autobiografias que surgiram nos últimos 8 anos. Como sempre, nomes de peso da cultura norte-americana, seus problemas na vida pessoal e como isso afetava (para mais ou para menos) suas composições/ performances.
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A história começa quando Cash ainda era garoto e morava com sua família em uma fazenda no estado americano do Arkansas durande a depressão americana. Depois de vivenciar a perda de seu irmão mais velho e as constantes crises familiares provindas do alcoolismo do pai, Cash vai para o exército onde começa a compor. Quando volta e se casa, monta uma banda e começa a perseguir o sonho do estrelato como um cantor country. E então, finalmente conhece June Carter, artista desde pequena com quem iniciará um relacionamento explosivo e cativante por décadas.
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O filme que já exalava excelência, ganha 17 minutos adicionais, que nos permite ir um pouco mais a fundo na vida de Cash, mais precisamente em seus momentos de solidão quando tinha inspiração para compor suas musicas. E intensifica sua fase de dependência das drogas, o turbulento relacionamento com o pai (ótima atuação de Robert Patrick), a confusa relação com Vivian, sua esposa e é claro, o conturbado romance com June Carter. E é justamente neste ponto onde o filme encontra sua força maior. As atuações de Joaquim Phoenix (Cash) e Reese Whitherspoon (premiada com o Oscar pela sua interpretação de June Carter) nos faz mergulhar ainda mais no caótico mundo de Johnny Cash. O que fica mais evidente com as alternações de cenas de pura paz, com os ataques de fúria dentro e fora dos palcos, fruto da personalidade explosiva do cantor. No filme, as referências se fazem presentes e é sempre bom reconhecer grandes nomes da época e como os caminhos se cruzaram no tempo. Uma direção acertada e um roteiro caprichado que nos faz vivenciar o "anel de fogo" pelo qual Cash teve de enfrentar.
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(Nota 9,0)
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terça-feira, 24 de junho de 2008

Até o Fim

O Cinema Britânico (quase) tomou a festa do Oscar´ 98 de surpresa com uma das comédias mais brilhantes dos últimos anos.

OU TUDO OU NADA
(The Full Monty; ING, 1997)
Dir.: Peter Cattaneo
Com Robert Carslyle, Tom Wilkinson, Mark Addy
1h31 Min - Comédia


O cinema inglês é mesmo um ponto muito curioso dentro da sétima arte, principalmente quando falamos sobre público no Brasil. Não é todo mundo (infelizmente), que pode colocar os olhos em filmes como "Snatch - Porcos e Diamantes" (em breve nesta seção) ou "O Barato de Grace". Filmes 100% britânicos, com temas simples, porém abordados de formas surpreendentes. É o caso deste filmaço de 1997, apropriadamente entitulado (aqui no Brasil) de "Ou Tudo ou Nada".
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O tema abordado aqui é Desemprego. Começa com Gaz, malandro de uma pequena cidade da Inglaterra, que entra em colapso após o fechamento de uma grande fábrica metalurgica. Desesperado, Gaz procura seus amigos na mesma condição com uma proposta curiosa: Organizarem um grupo de striptease para tentar sair do buraco. Porém, eles são velhos, fora de forma e nem um pouco atraentes, o que faz Gaz propor a verdadeiro truque: Eles ficarão completamente nus ao fim da apresentação. O que parecia uma brincadeira, ganha proporções maiores, quando são divulgados na cidade pelo boca-a-boca e conseguem vender todos os ingressos da casa para a noite de apresentação.
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A melhor coisa do filme é como os personagens lidam entre si. As inseguranças em relação ao pudor, à moral familiar e aos seus próprios preconceitos. Humor sutil e de primeira qualidade brindam o espectador por uma hora e meia (que parecem ser muito menos que isso) com situações embaraçosas, porém críveis do ponto de vista do homem comum. Curiosidade: A cena derradeira do filme, o strip-tease propriamente dito teve de ser filmado de uma só vez, a pedido dos atores envolvidos. Um filme que poderia utilizar de recursos apelativos e grotescos, mas que optou ser fino e discreto como a personalidade inglesa pede. Conquistou a crítica mundial e rendeu 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, diretor e roteiro. Venceu na outra categoria, a de trilha sonora.
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(Nota 9,5)

Personagem X História

Sem muito alarde, o comediante Will Ferrell entrega uma atuação surpreendente em um filme que passou despercebido pelos cinemas brasileiros.
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MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO
(Stranger Than Fiction; EUA, 2006)
Dir.: Marc Forster
Com Will Ferrell, Maggie Gyllenhall, Dustin Hoffman, Emma Thompson.
1h53 Min - Drama/Comédia
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Will Ferrell, para quem não conhece (e se for o caso, comece pelo filme desta resenha), é um ator que não é tão reconhecido no Brasil, mas é ídolo nos EUA. Mas você já viu ele em um filme. Fez pequenas pontas em filmes como "Penetras - Bons de Bico" (o cara que "pegava" mulheres nos enterros) e o bandido bissexual de "Starsky & Hutch". Apesar da excentricidade dos papéis, Ferrell sempre marcou o filme com gags hilariantes. Protagonizou outros como "O Âncora", e "Ricky Bobby" e comandou o show. Mas no meio de tanta barulheira e histeria, Ferrell dedicou um tempo para demonstrar um lado mais serio, que lhe rendeu algumas indicações e fortemente cotado a um Oscar.
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Ferrell interpreta Harold Crick. Um agente fiscal que tem uma vida extremamente regrada e monótona. Quando começa a ouvir vozes. E aos poucos, descobrimos que as vozes na verdade, saem de uma narradora e que Crick é o personagem principal. A virada se dá quando Crick se apaixona e pouco depois a voz lhe diz que sua morte é iminente. O personagem parte em uma viagem de auto-conhecimento e procurar aproveitar a vida antes que seu tempo acabe.
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Este filme é a típica pérola que você pode encontrar em meio a tanto barulho que os grandes filmes produzem. Atuações brilhantes, que incluem Dustin Hoffman, como um professor de literatura, Emma Thompson como a escritora (e dona da voz misteriosa) e até Queen Latifah, são conduzidas por um roteiro bizarro e surpreendente e por um diretor seguro. Os efeitos especiais (sem palavras para descrevê-los) são sutis e essenciais para que possamos entender o mundo de Harold. Uma pedida um pouco mais "cult", para um dia em que estiver a fim de menos barulheira e mais cinema. Imperdível.
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(Nota 9,0)
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Trailer:

domingo, 22 de junho de 2008