segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A sabedoria do avesso

Esqueça tudo isso e vá jogar boliche...

O GRANDE LEBOWSKI
(The Big Lebowski; EUA/ING, 1998)
Dir.: Joel Coen
Com Jeff Bridges, John Goodman, Steve Buscemi
1h57 min - Comédia
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Até outrora, falar dos irmãos Coen era basicamente lembrar dos ácidos momentos de Fargo. Haviam outros no caminho, como "Arizona Nunca Mais" ou "Barton Fink", mas Fargo, pelas indicações ao Oscar e as atuações inspiradíssimas em um bom filme pareciam falar mais alto. Desde este marcante filme de 1995 até o mais recente "Onde os Fracos Não Tem Vez", presenciamos pérolas como "E aí Irmão, Cadê Você?" e momentos irregulares como "O Amor Custa Caro". Mas a saga de Lebowski e seus inseparáveis companheiros Walter e Donny no clássico cult "O Grande Lebowski" certamente representa um ponto fora do comum para os dois diretores.
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Ponto incomum, porque como toda boa comédia, ela segue propositalmente fora dos padrões: Não se leva a sério em momento algum, não sente a necessidade de apelar para o pastelão e conta com atores comprometidos com a história. História que se passa no começo da década de 90, onde Jefferey Lebowski - ou o "Dude" como prefere ser chamado - é confundido com um milionário e tem sua casa, digamos, violada por dois bandidos. Injuriado com o prejuízo, o "Dude" vai até a casa do verdadeiro Jefferey Lebowski reaver o pagamento. Contar o que se sucede no filme, pode estragar surpresas e comprometer momentos cômicos. Só adianto que ele se envolve novamente com o milionário e se torna negociador do sequestro de Bunny, a esposa do Lebowski milionário.
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"Cala a boca Donny... Ele vai falar alguma coisa..."
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E a história de Lebowski costuma a dividir radicalmente opiniões: Quem gosta, clama ser um filme hilário e marcante. Em compensação, quem não compra a história costuma a tecer críticas ferozes. A verdade é que é um retrato de três amigos completamente diferentes que tem como unica ligação, o boliche. E é na pistas (e atrás delas) que eles podem refletir sobre seu cotidiano e se ajudarem a tomar o próximo passo. Mesmo com os momentos de completo non-sense, "O Grande Lebowski" consegue divertir e surpreender. Os diálogos (principalmente entre o Dude e Walter) são impagáveis e de fácil reprodução no cotidiano pelos fãs imponderáveis do filme. Mesmo com as "viagens" do personagem principal, que podem ser tidas um tanto quanto exageradas, os personagens do filme são extremamente bem-construídos e encontram fácil explicação para suas ações. Uma comédia afiada e complexa, que ganhou fãs por todo o planeta. Mas acima de tudo, um filme muito, muito divertido. A não ser que ameaçar Jesus Quintana (a hilaria ponta de John Turturro) seja muito para você.
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(Nota 9,5)
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Trailer:


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Com todo o respeito...

E agora, algo completamente diferente:
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A VIDA DE BRIAN
(Life of Brian; ING, 1979)
Dir.: Terry Jones
Com Graham Chapman, Terry Jones, Eric Idle, John Cleese, Michael Palin, Terry Gillian
1h34 min - Comédia
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Brincar com religião não é facil. Quando "Dogma" de Kevin Smith estreiou tentaram proibir o filme em varios países. "A Última Tentação de Cristo" também não teve tarefa fácil para ser exibido nos cinemas. Mas antes desses notáveis filmes, houve "A Vida de Brian". Escrito e dirigido por um dos geniais integrantes do grupo Monty Phyton, e que, na época de seu lançamento (1979) era vendido como um filme que "ofende dois terços da população mundial e incomodará o restante", foi banido em vários países (incluindo Irlanda, Noruega, Cingapura e ter sido reeditado para ser exibido na Finlândia). Mas como nada era obstáculo para a trupe inglesa, o filme foi lançado e uma legião de fãs (adeptos e não-adeptos do seriado Flying Circus) ainda prega ser uma das melhores comédias de todos os tempos.
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Para se ter uma ideia da gravidade da situação: Brian nasce em um estábulo vizinho ao de Jesus Cristo (tão perto que os Reis Magos entram no estábulo errado). E por toda a sua vida ele passará muito perto do Messias, ainda que nunca fazendo contato direto com Ele. Seja tentando ouvir ao sermão da Montanha, ou se envolvendo em conspirações contra os romanos, criando uma legião de seguidores e até correndo risco de ser crucificado.
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"Nós, os Lomanos impiedosos..."


Se brincar com a religião é algo perigoso, "A Vida de Brian" não apela. Faz sim, piadas fortes mas nunca visa ofender a tradições e culturas. É um belo exercício de comédia e da tentativa de fazer o espectador rir de valores que consideram como Dogmas, sempre utilizando a sua tradicional linha non-sense. Os integrantes estão empolgados e inspirados, fazendo um filme à altura de seu antecessor "Monty Phyton e o Cálice Sagrado". Como sempre, piadas sobre sexo, políticas e a inversão de tradições formam o alicerce do filme. E em caso de se sentir ofendido e/ou magoado, tenha calma, respire fundo e procure "sempre olhar para o lado bom da vida".
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Nota 10,0
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Cena do filme:

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pistas para o Passado

O que o diretor Christopher Nolan fazia antes de Batman Begins?
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AMNÉSIA
(Memento; EUA, 2000)
Dir.: Christopher Nolan
Com Guy Pierce, Carrie Anne Moss, John Pantoliano
1h 53 min - Suspense

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Na última semana, em conversa sobre cinema com alguns amigos, acabei descobrindo um fato curioso. Quase ninguem na roda havia assistido ao filme "Amnésia", de 2000. Nem quando apelei para o mais básico dos relatos sobre o filme - "É aquele filme que é contado de trás para a frente" - ouvi uma resposta que me animasse. E este post acaba por cair como uma luva em tempos de Cavaleiro das Trevas, já que o filme deste post foi o primeiro trabalho reconhecido do diretor da nova franquia de Batman no grande círculo cinematográfico.
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O filme começa com um crime. Mais precisamente um tiro na cabeça de um policial. Em paralelo, vemos Leonard (Guy Pierce) conversando pelo telefone em um quarto de hotel. Aos poucos, descobrimos que o personagem sofre de perda de memória recente desde um acidente que causou a morte de sua esposa. Ele passa a vida tirando fotos e tatuando as informações importantes em seu corpo para achar o assassino de sua amada, para não correr o risco de perder qualquer brecha que descobre em um curto intervalo de tempo. O problema é que no meio de seu limitado universo de pessoas, muitos podem ajudá-lo e outros podem tomar proveito da situação. E o mais agravante: Será que Leonard matou o cara certo?
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"Legal essa sua tatoo..."

Para as próximas rodinhas de conversa, diga que este é "aquele filme e que é contado de trás para a frente". Não só porque o diretor achou que seria uma forma inovadora de contar a história, mas porque o recurso é perfeito para colocar o espectador na pele do protagonista - Cada sequência do filme termina onde a sequência anterior começou. E como funciona! Se perder e se confundir (assim como o personagem), não só é fácil, como proposital. O diretor conduz seus espectadores ao aflitivo cotidiano e à interminável investigação de forma eficaz, o que gera uma simpatia quase que instantânea (isso ajuda muito no desfecho do filme) e a cada pista que ele encontra sugere uma nova reviravolta na conturbada história. Além das interpretações competentes (que inclui uma Carrie-Anne Moss recém saída da Trinity do primeiro Matrix), a história é impactante e surpreendente. Mas um filme para ser assistido com calma. Pode ser que você não entenda tudo logo de cara. Nada preocupante, qualquer coisa é só voltar e assistir tudo de novo.
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(Nota 10)
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Trailer: Não Disponível