quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Fim da Sociedade

Grande Elenco. Grande História. Grande Direção. Grande Filme.
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FILHOS DA ESPERANÇA
(Children of Men; EUA, 2006)
Dir.:Alfonso Cuarón
Com Clive Owen, Julianne Moore, Chiwetel Ejiofor, Michael Caine
1h42 min - Drama
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É engraçado analisar algumas das diferentes versões de um futuro pessimista que o cinema já apresentou. Desde os filmes de ficção científica dos anos 60/70 (incluindo Planeta dos Macacos, Fuga do Século 23, O Dia em Que a Terra Parou...) os filmes que se passam há alguns anos na nossa frente costumam a mostrar um planeta descuidado, ou uma população enlouquecida. Geralmente rendem filmes na média das expectativas, porém, poucos deles se tornam memoráveis. É preciso um roteiro enxuto apoiado em uma causa nobre (geralmente ligado a algum tom político). Em 2006, quase nos acréscimos, um cineasta mexicano, uma história poderosa e alguns astros do primeiro escalão americano deram o exemplo de um bom filme futurista.
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E se daqui há 12 anos (2020, no filme), as mulheres do planeta não conseguissem mais engravidar? Como que a população aceitaria o fato de estarem enfrentando a extinção. A cidade é Londres. O último humano a nascer se torna uma celebridade e choca a população quando é assassinado. O governo local estabelece uma política contra imigrantes, devido ao grande número de nações menores que entraram em colapso e tiveram seus cidadãos se mudando para nações com melhor condições de vida. A população entra em choque e um forte sentimento nacionalista toma conta dos ingleses os dividindo entre pro e contra imigração. A capital inglesa sofre com atentados e muita violência. Mas eis que um grupo de pró-imigrantes, descobre que uma mulher está grávida. A líder Julian (Julianne Moore) aciona seu ex-marido Theo Faron (Clive Owen em uma de suas melhores performances), que não tem qualquer tipo de ligação com grupos extremistas, para que possa leva-la para fora da tumultuada cidade e para que assim, a criança possa crescer protegida.
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"Para de atirar, que o bebê tá dormindo..."

Um filme tenso até o último fio de cabelo, cortesia de uma direção perfeita e atuações brilhantes. A história coesa dá base para um dos filmes mais surpreendentes e chocantes dos últimos anos. O clima apocalíptico, os cenários destruídos e toda a direção de arte do filme auxiliam o espectador a mergulhar no pânico de seus personagens. O diretor Alfonso Cuarón (do filme "E sua mãe também") utiliza-se de uma câmera quase documental para aumentar a tensão e colocar o público junto ao grupo fugitivo. É impossível não prender a atenção e passar por aquele clima pessimista. Não buscamos respostas, apenas a salvação. Uma experiência muito forte (como há muito não víamos no cinema), não pela quantidade de violência (em doses consideráveis aqui), ou pelo grafismo que muitos filmes apelam. Forte no sentido psicológico de ver uma sociedade em colapso e demonstrada de forma visceral. Um verdadeiro soco no estômago. Mas a gratificante sensação de experienciar cinema puro.
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(Nota 9,5)
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Trailer:

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O amor que queima

O turbulento mundo de um dos maiores nomes da música, ganha uma merecida edição definitiva.
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JOHNNY & JUNE
(Walk the Line; EUA, 2007)
Dir.: James Mangold
Com Joaquim Phoenix, Reese Whitherspoon, Robert Patrick
2h16min (Original)/ 2h33min (Definitiva) - Drama
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Neste fim de semana, tive o prazer de encontrar a versão definitiva do filmaço de um dos nomes fortes da musica americana, Johnny Cash. Um dos filmes da excelente safra de autobiografias que surgiram nos últimos 8 anos. Como sempre, nomes de peso da cultura norte-americana, seus problemas na vida pessoal e como isso afetava (para mais ou para menos) suas composições/ performances.
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A história começa quando Cash ainda era garoto e morava com sua família em uma fazenda no estado americano do Arkansas durande a depressão americana. Depois de vivenciar a perda de seu irmão mais velho e as constantes crises familiares provindas do alcoolismo do pai, Cash vai para o exército onde começa a compor. Quando volta e se casa, monta uma banda e começa a perseguir o sonho do estrelato como um cantor country. E então, finalmente conhece June Carter, artista desde pequena com quem iniciará um relacionamento explosivo e cativante por décadas.
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O filme que já exalava excelência, ganha 17 minutos adicionais, que nos permite ir um pouco mais a fundo na vida de Cash, mais precisamente em seus momentos de solidão quando tinha inspiração para compor suas musicas. E intensifica sua fase de dependência das drogas, o turbulento relacionamento com o pai (ótima atuação de Robert Patrick), a confusa relação com Vivian, sua esposa e é claro, o conturbado romance com June Carter. E é justamente neste ponto onde o filme encontra sua força maior. As atuações de Joaquim Phoenix (Cash) e Reese Whitherspoon (premiada com o Oscar pela sua interpretação de June Carter) nos faz mergulhar ainda mais no caótico mundo de Johnny Cash. O que fica mais evidente com as alternações de cenas de pura paz, com os ataques de fúria dentro e fora dos palcos, fruto da personalidade explosiva do cantor. No filme, as referências se fazem presentes e é sempre bom reconhecer grandes nomes da época e como os caminhos se cruzaram no tempo. Uma direção acertada e um roteiro caprichado que nos faz vivenciar o "anel de fogo" pelo qual Cash teve de enfrentar.
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(Nota 9,0)
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